PRODUÇÕES DE VULNERABILIDADES NO CENÁRIO DA PANDEMIA E NECROPOLÍTICA: interconexões e reflexões
DOI:
https://doi.org/10.22289/2446-922X.V9N1A19Palavras-chave:
Coronavírus, Vulnerabilidade, Políticas PúblicasResumo
O enfrentamento da covid-19 modificou as relações nos diversos ambientes de convivência, impactando, principalmente, as famílias menos abastadas econômico-socialmente. O objetivo deste artigo foi discutir sobre as produções de vulnerabilidades no cenário da pandemia de covid-19, e as possíveis relações com as necropolíticas instrumentalizadas pela governamentalidade. Trata-se de um estudo teórico reflexivo, pautado no referencial da necropolítica, de Achille Mbembe; e do biopoder, de Michel Foucault. Os dados foram coletados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online – SciELO; a biblioteca virtual de Saúde na América Latina e Caribe – LILACS e a Biblioteca Virtual em Saúde – BVS; Web of Science e Pubmed. Os resultados evidenciam que, no cenário da pandemia, as produções de vulnerabilidades são agenciadas pelos impactos biopsicossociais causados pelo coronavírus, no entanto, as políticas de enfrentamento como o isolamento social imposto como medida restritiva do contágio capilarizaram os seus efeitos. Conclui-se que os impactos da pandemia da Covid 19 circundam os grupos mais vulneráveis, não somente pelos efeitos sintomáticos causados pelo vírus, mas também pelos arranjos maquínicos do neoliberalismo e toda a sua trama rizomática produtora de vulnerabilidades. Assim, embora se imprimam os desafios, chama-se a atenção para a importância do envolvimento da população nas construções das políticas públicas com vistas a acompanhar os processos e evitar que as necropolíticas instrumentalizadas pela governamentalidade se potencializem como tendência.
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